Retorno aqui indignado com o fato desse blog de merda ter apagado um dos textos que eu mais gostei de escrever, mas que devido ao que aconteceu, não sei se ficará a mesma coisa!
Tentando retomar o assunto:
Na semana “Fora do Tempo”, que cerca o dia 25 de julho, fui à Chapada, Alto Paraíso, Vila de São Jorge. Pois bem, um lugar maravilhoso, cercado de natureza, ao ponto da cidade não ter nem asfalto nas ruas e banhada de inúmeras cachoeiras belíssimas.
Visitei a região durante um festival de cultura regional e também de cultura indígena. O que me deixou extasiado por aqueles grupos constituídos basicamente de viola, pandeiro, sanfona, às vezes um tambor e velhas cantoras desafinadas. O festival foi tão fantástico que cheguei ao ponto de, numa rua escura, de terra batida, eu e Vinicius avistarmos a silhueta de um velho negro vestido num terno roxo, pasmem, ROXO, camisa de botão bem vermelha, chapéu roxo também, colocado de lado na cabeça e até uma bengalinha charmosa. Toda essa vestimenta devia estar encaixotada a milhares de anos e usada somente em ocasiões especiais ao ponto de sacanear com a cabeça de dois garotos ripongando (sic). Cruzamos com o tal velho, que posteriormente iríamos encontrar em uma roda de música, que parecia ser algo como coco ou xaxado, dançando, cantando, sorrindo, quase pulando! A partir daquele momento aquele velho negro formou outra imagem da sua pessoa.
Retomando ao assunto que iria iniciar no parágrafo passado e que acabei desvirtuando para o tal velho. Iria falar sobre quando assistia a apresentação de um grupo e comecei a analisar sua música. Aquela música constituída novamente de uma viola, pandeiro marcando, sanfona e as tais cantoras berrantes desafinadas. Essa gente mora em meio à natureza, cresceu olhando a natureza, entendendo respeitando essa natureza. Pois bem, como as coisas na natureza acontecem? Em passos lentos. Uma reação pra acontecer dentro de uma folha demanda tempo. O vento regelado que começa a soprar, transformar-se-á, com o tempo, em chuvas. Essa mesma chuva irá fazer a flor do cerrado desabrochar. Tudo na natureza acontece em passos lentos. Você reconhece essas transformações, mesmo elas acontecendo bem lentamente, no seu tempo.
Será que a música dessa gente que mora na natureza sofre impacto da mesma? A natureza interfere na música dessa gente?
Ouvindo uma das músicas do grupo, percebi que se constituía basicamente da viola tocando uma só frase, o pandeiro marcando a mesma batida circular, a sanfona sempre na mesma onda e as cantoras berrando desafinadamente a mesma frase também. Depois de vários minutos repetindo isso, eles começam, falando na linguagem musical, a passar a música para forte, até atingirem o fortíssimo. Depois vão diminuindo até atingirem piano e depois pianíssimo. Essa intensidade foi feita com tanta cautela e delicadeza que você leva um tempo pra perceber. Seu cérebro é dominado por aquilo e só quando passa de fortíssimo para só depois voltar ao piano é que a pessoa se toca da mudança que aconteceu. Na natureza é a mesma coisa. Não percebemos o processo de transformação, mas sim a transformação.
O mesmo impacto que vejo nas coisas da natureza eu vi acontecer naquela música. Será que o ambiente em que uma música é feita interfere tanto assim na forma como ela é feita?
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